Dom Cláudio Hummes foi o 18º bispo de São Paulo, seu 6º arcebispo e o 4º a ocupar o cargo de cardeal, uma das posições mais altas da Igreja Católica. O arcebispo emérito de São Paulo morreu nesta segunda-feira (4) aos 87 anos devido a um câncer no pulmão.

Nascido em Montenegro (RS), em 1934, Hummes entrou para a vida religiosa da Ordem Franciscana dos Frades Menores, recebeu a ordenação sacerdotal em 1958 e a ordenação episcopal em 1975.

Em um longo ministério, o religioso dedicou-se, em especial, à defesa dos direitos dos trabalhadores e dos povos indígenas.

Povos da Amazônia

O combate ao desmatamento, violência e doenças, que colocam em vulnerabilidade as populações amazônicas, fez parte da vida pastoral de Dom Cláudio Hummes.

Falando na COP21, em dezembro de 2015, ele manifestou apoio ao modo de vida dos indígenas: “é preciso defendê-los, defender seus direitos, dar-lhes de novo a possibilidade de serem os protagonistas de sua história, os sujeitos de sua história. Deles foi tirado tudo: a identidade, a terra, as línguas, sua cultura, sua história, tudo”, disse.

Em outubro de 2019, foi convocado ao Sínodo para a Região Pan-Amazônica, o que permitiu concentrar a atenção coletiva para os problemas da região. Nomeado relator geral, o cardeal propôs aos participantes da assembleia a busca por novos caminhos para a Igreja na Amazônia.

“Os povos indígenas demonstraram de muitas maneiras que desejam o apoio da Igreja na defesa e proteção de seus direitos, na construção de seu futuro. E pedem que a Igreja seja uma aliada constante”, disse o cardeal na sala nova do Sínodo. “Aos povos indígenas devem ser restituídos e garantidos o direito de serem protagonistas de sua história, sujeitos e não objetos do espírito e da ação do colonialismo de ninguém”, completou.

Em 2020, o religioso foi nomeado presidente da recém-criada Conferência Eclesial da Amazônia. Na atuação, Hummes defendia que as indicações da assembleia fossem colocadas em prática.

“O Sínodo é o ponto alto que ilumina os caminhos. Porém continua agora, todo o processo continuará também na aplicação pós-sinodal, no território e em todos os lugares onde exista uma conexão”, disse aos veículos de comunicação vaticanos, através dos quais denunciou também a “grave crise climática e ecológica” que realmente coloca em risco “o futuro do planeta e, portanto, o futuro da humanidade”.

Direitos dos trabalhadores

Nomeado Bispo pelo papa Paulo VI, em março de 1975, Dom Cláudio Hummes assumiu a Diocese de Santo André (SP), em dezembro do mesmo ano, e ali permaneceu por 21 anos, até 1996, quando foi nomeado para a Arquidiocese de Fortaleza (CE).

Em Santo André, Hummes acompanhou de perto o movimento operário no Brasil, incluindo a greve geral do metalúrgicos do ABC no fim da década de 1970. O religioso abriu as portas da Catedral de Santo André para assembleias, presidiu missa com a participação dos grevistas e posicionou-se contra as demissões dos manifestantes.

Em Fortaleza, entre 1996 e 1998, Hummes coordenou ações com famílias, especialmente com as mais pobres e endividadas, no contexto da preparação do 2º Encontro das Famílias com o papa João Paulo II e do Congresso Teológico Pastoral sobre a Família, em outubro de 1997.

Encontro do papa João Paulo II e o cardeal Dom Cláudio Hummes / Divulgação/CNBB

“Não se esqueça dos pobres”

Em 1998, Dom Cláudio Hummes foi nomeado arcebispo de São Paulo pelo papa João Paulo II, permanecendo na arquidiocese até 2006.

No cargo, apoiou projetos de emprego e geração de renda, e promoveu o “Seminário da Caridade”, a partir de 2001, para mapear ações voltadas aos mais pobres que a Igreja em São Paulo realizava naquele momento.

Em 2006, o cardeal foi nomeado por Bento XVI como Prefeito da Congregação para o Clero, cargo que exerceu até 2010, quando, aos 75 anos, apresentou um pedido de renúncia por limite de idade.

Dom Cláudio também foi presença marcante no conclave de 2013, que elegeu como papa o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio.

Ao amigo argentino, sentado ao seu lado, quando alcançou o número de votos necessários para ser eleito, sussurrou-lhe ao ouvido: “Não se esqueça dos pobres“.

Das palavras do cardeal surgiu a inspiração para a escolha do nome do papa então recém-eleito. A revelação foi feita pelo papa Francisco a jornalistas em 2013.

“Tinha ao meu lado o cardeal Cláudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da Congregação para o clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando o caso começava a tornar-se um pouco ‘perigoso’, ele animava-me. E quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi eleito o papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: ‘Não se esqueça dos pobres!’. E aquela palavra gravou-se na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis”, disse o papa.

Direitos dos trabalhadores e dos povos indígenas fez parte do ministério de Dom Cláudio Hummes / Foto: Luciney Martins

Em junho de 2021, após receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de Rosário (UNR), da Argentina, o papa Francisco escreveu a Dom Cláudio agradecendo-o pelo “exemplo que me deu durante a sua vida”, e recordando duas frases pronunciadas pouco depois de ter sido eleito papa, quando Dom Cláudio lhe disse: “é assim que o Espírito Santo age” e “não se esqueça dos pobres”.

O pontífice enfatizou que cardeal brasileiro está entre aqueles “líderes que têm a coragem de abrir trilhas, caminhos, e de provocar sonhos; a coragem de continuar sempre olhando o horizonte sobre os problemas e as dificuldades do caminho”.

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